terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Ronaldinho é do Fla



Ronaldinho Gaúcho finalmente disse sim. Após longa negociação num quadrado amoroso envolvendo Grêmio, Palmeiras e Flamengo, o clube do Rio de Janeiro levou a melhor e acertou seu contrato até 2014 com o ex-jogador do Milan. Esse sim de Ronaldinho, porém, revela muito do quão pouco ético e quão pouco profissional pode ser o futebol nos dias de hoje.

A primeira dúvida que fica no caso é sobre a lisura de Assis, irmão e dublê de empresário do jogador, na condução das negociações com os clubes. Desde a saída forçada do Milan até a conversa, em paralelo, com três diferentes agremiações.

Ronaldinho tinha um contrato com o Milan que estava em vigência. O atleta simplesmente forçou a barra para sair da equipe italiana. Não fez o absurdo de simplesmente abandonar o clube, como muitos (Robinho é o maior mestre nessa arte) estão acostumados a fazer. Mas também deixou claro que gostaria de deixar Milão e retornar ao Brasil. Não seria mais correto continuar trabalhando a serviço do clube enquanto não definia o destino que ele teria? Principalmente porque havia uma multa rescisória em caso de o atleta deixar o clube antes do término de seu contrato.

Depois de acertar a saída do Milan, Assis passou a negociar com Grêmio, Palmeiras e Flamengo. Aí entramos, além da questão ética, na falta de profissionalismo de dirigentes, atleta e irmão/empresário.

Assis deveria ter cumprido com a palavra, ou então agido de forma profissional. Acertou com um clube, faz um pequeno contrato confirmando que há um acerto. No mundo corporativo, é o tal do “Memorando de Entendimentos”, termo que duas empresas que negociam assinam após chegarem a um primeiro entendimento para um modelo de negócio. Essa prática, até hoje, simplesmente inexiste no futebol.

“O Palmeiras foi correto demais. É muita correção, muita gentileza, é ser muito cavalheiro e correto com as coisas, e o futebol atualmente é muita sem-vergonhice. O Palmeiras já tinha um acerto definido desde o fim de dezembro, e só não foi assinado no Rio por um erro da diretoria, que não assinou um acordo com multas, validade. Senão, estaria tudo resolvido”.

A declaração é de Luiz Felipe Scolari, técnico do Palmeiras, sobre a condução dos negócios entre o clube e Assis. O clube paulista, assim como o Grêmio, foi extremamente infeliz em usar a imprensa para anunciar acertos verbais como verdades sacramentadas. Nessa novela, só o Flamengo soube como se comportar adequadamente.

Mérito do clube, de não falar sem ter nada concretizado. Mas falha, principalmente, do irmão de Ronaldinho, que deu o ok para os três, mas só poderia assinar com um. E aí é que entra a questão da profissionalização que ainda está longe de ser vista em alguns casos do esporte no mundo inteiro.

Ronaldinho tem a sua carreira gerenciada pelo irmão. Assis teve como maior mérito na vida ser um ótimo jogador de futebol. Mas não se aprimorou para ser um gestor de carreira. Assis é um cara bem relacionado. Conhece os atalhos do futebol por ter vivido esse ambiente a vida toda. Tem contato com clubes, dirigentes, atletas e treinadores.

Mas “só” isso.

Se Ronaldinho tivesse uma equipe ou alguém mais bem preparado trabalhando para pensar a sua carreira, com certeza teria tido muito cuidado na negociação com um, dois, três ou trinta clubes que eventualmente se interessariam em contar com ele. Mas Assis é irmão de Ronaldinho. E, por isso, por mais profissional que ele possa ser, sempre terá a barreira do amor, do carinho, da proteção ao irmão caçula. É impossível achar que o leilão pelo atleta também não foi fruto desse sentimento de que o irmão vale ouro, talvez mais até do que possa ser pago para ele.

Ronaldinho volta ao Brasil. E isso é uma excelente notícia. Ainda mais pelo fato de ele voltar para o clube de maior torcida do país, ou como o próprio Flamengo anunciou, é o “melhor no maior do mundo”.

É uma lufada de bons tempos e, principalmente, prenúncio de boas notícias para um clube que sofreu o calvário em 2010. Mas a maneira como começou esse negócio mostra que, se a base para medir o sucesso da empreitada é o Ronaldo mais famoso, então tudo começou com o pé errado. É só lembrar o quão sigilosa e eficiente foi a negociação entre Corinthians e Ronaldo para a contratação do atleta em dezembro de 2008.

Ética e profissionalização são características extremamente importantes em qualquer ambiente de negócios. E o futebol é um ambiente que precisa urgentemente disso.

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